
A realidade é o que nosso cérebro nos permite perceber.
Júlio Torres (UFC/CE) apresenta três visões de mundo: mecanicista, econômica e complexa.
A visão mecanicista desde o século XVII é caracterizada pelo racionalismo científico, simbolizada pela máquina. Nela não há lugar para valores e princípios éticos. Nas organizações e nos governos, para se alcançar as metas, “os líderes” possuem todos os poderes para efetivá-las. Impera o modelo vertical. As pessoas não têm autonomia para pensar, criar e participar das decisões.
A visão econômica começou a se consolidar com o surgimento da tecnologia da informação. O mercado se agrega à máquina.
Além do poder do capital temos também o poder intangível da informação. As pessoas continuam a ser mercadoria. Enxerga-se, principalmente, o mercado, o cliente e o lucro. O que se valoriza são a capacidade e a competitividade. O servidor e o cidadão são apenas receptores da informação emanada do “líder”.
Finalmente, a visão complexa surgiu a partir dos pensamentos de Albert Einstein (somos matéria e energia), Fritjof Capra (visão ecológica profunda) e da descoberta do DNA.
Nesse olhar a realidade, como um todo complexo, não é somente quantitativa, ela é, principalmente, qualitativa.
Nesse olhar a realidade, como um todo complexo, não é somente quantitativa, ela é, principalmente, qualitativa.
Na Teoria da Complexidade as partes não devem ser vistas isoladamente, todas elas se relacionam. A diversidade e a pluralidade devem ser reconhecidas e valorizadas cada vez mais. Edgar Morin, grande antropólogo francês, afirma: “É preciso reagrupar os saberes para buscar a compreensão do universo”.
Na contemporaneidade, a visão complexa e a ecologia profunda nos levam à sustentabilidade no seu sentido da preocupação com a vida das futuras gerações. 
Hoje, o pensamento complexo deve ser a referência maior para a análise dos grandes projetos que se dizem social e inovadores.

Hoje, o pensamento complexo deve ser a referência maior para a análise dos grandes projetos que se dizem social e inovadores.
A apreciação cronológica que fizemos acerca das visões de mundo se aplica, a mesmo modo, à análise da cidade e da compreensão de sua evolução/gestão urbana.
A partir de Ur, a mais antiga das cidades, circundadas de muros, depois, com as cidades abrigando a sede do poder econômico e político.
A partir de Ur, a mais antiga das cidades, circundadas de muros, depois, com as cidades abrigando a sede do poder econômico e político.
Mais tarde, as cidades gregas buscaram a democracia com a participação cidadã.
No racionalismo com as administrações das cidades exigindo dimensões padronizadas nas construções das casas e preocupadas com a higiene.
No racionalismo com as administrações das cidades exigindo dimensões padronizadas nas construções das casas e preocupadas com a higiene.
A cidade de Roma, consolidada pelo império romano, influenciou toda a Europa com a civilização urbana.
Na idade média, as cidades consolidaram a urbanidade.
No renascimento com o surgimento da burguesia surgiram as cidades de Gênova, Florença, Veneza e Paris consolidadas em termos sociais, políticos, jurídicos e religiosos.
Depois, vem Londres que provocou grandes transformações estruturais nas cidades européias entre os séculos XVI e XIX.
Depois, vem Londres que provocou grandes transformações estruturais nas cidades européias entre os séculos XVI e XIX.
Paris se destaca novamente pela iniciativa de enfrentar o crescimento acelerado da cidade devido à especulação imobiliária através da elaboração do Plano Urbanístico de Haussmann.
Mas foi no século XX que as cidades tiveram grandes transformações com o aparecimento do automóvel, da expansão das estradas de ferro, do transporte urbano, dos novos sistemas construtivos (arranha-céus) e das novas redes de serviços urbanos.
Mas foi no século XX que as cidades tiveram grandes transformações com o aparecimento do automóvel, da expansão das estradas de ferro, do transporte urbano, dos novos sistemas construtivos (arranha-céus) e das novas redes de serviços urbanos.
Surgiram então as metrópoles que consolidaram o planejamento urbano e regional.
Novas ideias surgiram para solucionar os grandes problemas urbanos, como a criação das cidades jardins e a construção de vias expressas para a solução de tráfego.
Novas ideias surgiram para solucionar os grandes problemas urbanos, como a criação das cidades jardins e a construção de vias expressas para a solução de tráfego.
Em 1933, os arquitetos divulgaram a “Carta de Atenas” que propunha um modelo universal de cidade funcional: habitar, trabalhar, circular e cultivar o corpo e o espírito. Surgem as propostas de Le Corbusier, o arquiteto ideólogo da cidade moderna priorizou a residência. Para ele era preciso descongestionar os centros da cidade com o estímulo ao crescimento da sua densidade.
No Brasil, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer seguem o arquiteto suíço com a proposta modernista para Brasília, através das construções de amplas avenidas e das super-quadras.
No Brasil, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer seguem o arquiteto suíço com a proposta modernista para Brasília, através das construções de amplas avenidas e das super-quadras.
Mas, logo nascem os opositores ao zoneamento das cidades e criam o chamado Novo Urbanismo reabilitando as cidades com espaços humanizados e de usos mistos. O planejamento urbano passa a ser mais discutido pela comunidade e pelas ONGs. Como na primeira “Habitat, Conferência Mundial sobre Assentamentos Humanos” realizada em Vancouver (Canadá), em 1976.
Na década de 1990, com o avanço da tecnologia e da globalização, grandes obras arquitetônicas são construídas no mundo patrocinadas e financiadas por organismos internacionais.
Surgem, então, as chamadas parcerias poder público e iniciativa privada. Muitas destes projetos foram de revitalização dos centros antigos e das orlas urbanas de cidades com a implantação de equipamentos culturais e de lazer.
Surgem, então, as chamadas parcerias poder público e iniciativa privada. Muitas destes projetos foram de revitalização dos centros antigos e das orlas urbanas de cidades com a implantação de equipamentos culturais e de lazer.
Em 1996, em Istambul, ocorreu a “Habitat II” onde se recomendou uma agenda básica de moradia adequada para todos e um desenvolvimento sustentável para as cidades. Não se esquecendo a Conferência da ONU (Rio 92) sobre meio ambiente, na defesa da cidadania e da função social da cidade e da propriedade.
O Brasil ofereceu um bom exemplo com a implantação do Estatuto da Cidade, em julho de 2001.
As cidades não fugiram, com a globalização, à lógica do neoliberalismo: transformaram-se em meras mercadorias. Prevalece a “city financeira” sobre a “polis democrática”.
A competividade entre as cidades, estimulada pela “guerra fiscal”, reduz as receitas públicas e a disponibilidade de recursos para as políticas sociais, aumentando a desigualdade, a exclusão das populações pobres e a degradação do meio ambiente.
As cidades não fugiram, com a globalização, à lógica do neoliberalismo: transformaram-se em meras mercadorias. Prevalece a “city financeira” sobre a “polis democrática”.
A competividade entre as cidades, estimulada pela “guerra fiscal”, reduz as receitas públicas e a disponibilidade de recursos para as políticas sociais, aumentando a desigualdade, a exclusão das populações pobres e a degradação do meio ambiente.
O poder público se apequena diante dos interesses imediatos dos agentes economicamente dependentes do processo de produção da cidade.
Impera a crença de que o desenvolvimento e o crescimento das cidades a qualquer custo seriam sempre positivos.
Outras características das grandes cidades: a desindustrialização, decorrente da migração das indústrias para outras regiões acarretando a deterioração física e social de determinadas zonas da cidade; e a horizontalização que fez surgir as periferias pobres - inclusive com monstruosos conjuntos habitacionais - e os condomínios fechados de classe média na fuga da violência urbana.
Falta de habitação, transporte precário, trânsito congestionado e violência urbana fazem parte, hoje, do cotidiano das metrópoles.
Falta de habitação, transporte precário, trânsito congestionado e violência urbana fazem parte, hoje, do cotidiano das metrópoles.

O resultado é uma cidade caótica sem estruturação urbana e com uma expectativa de futuro elusivo.
As cidades não devem ser confundidas com os governos. Devem incluí-los, como também, os agentes econômicos e privados, as organizações sociais e físicas, os setores intelectuais e profissionais e os meios de comunicação. Qualquer intervenção que provoque impacto em qualquer parte da cidade deve ser debatida democraticamente com todos os atores sociais.
No caso de Fortaleza, ela tem que acompanhar a tendência mundial das cidades avançadas fazendo a transição da “velha” economia para a “nova” economia. Ou seja, Fortaleza deve fortalecer, cada vez mais, o turismo e a atividade de entretenimento e abrigar indústrias de crescimento rápido e não poluidoras, como as do ramo da tecnologia da informação.
No caso de Fortaleza, ela tem que acompanhar a tendência mundial das cidades avançadas fazendo a transição da “velha” economia para a “nova” economia. Ou seja, Fortaleza deve fortalecer, cada vez mais, o turismo e a atividade de entretenimento e abrigar indústrias de crescimento rápido e não poluidoras, como as do ramo da tecnologia da informação.
A proposta de implantação de um estaleiro na orla marítima de Fortaleza é equivocada, e conseqüência de uma visão econômica já ultrapassada tanto na forma de condução do processo, como também, na essência da indicação.
Ela confronta-se com os valores da contemporaneidade na busca da construção de uma cidade sustentável, mais igualitária, humana e que respeite o meio ambiente.
Neste momento, seria recompensador que a Prefeitura de Fortaleza, a partir desta polêmica do estaleiro, reconhecesse a falha da ausência de um planejamento urbano à altura de uma metrópole como Fortaleza e ressurgisse o órgão de planejamento urbano - erroneamente extinto - o Instituto de Planejamento Urbano do Município – IPLAM.
Ele seria o espaço na estrutura organizacional da gestão para definir uma política de desenvolvimento urbano sustentável para hoje e para o futuro da capital de todos os cearenses.
Marcelo Silva
Arquiteto e Urbanista – Presidente do PV Ceará
Arquiteto e Urbanista – Presidente do PV Ceará
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