Estas são: Adrinésia Carla, Ana Paula, Sílvia Carla e Francisca Suzete. Recebí-as no meu Gabinete onde vieram para reivindicar um direito muito justo: moradia.
Tudo começou com uma ocupação feita numa área destinada à praça, no bairro Quintinho Cunha. A Secretaria Regional 3, cumprindo com sua missão, corretamente interveio notificando os invasores. Elas faziam parte deste grupo. Minha obrigação, como secretário, foi de recebê-las e escutá-las.
Para mim, foi uma oportunidade de sentir, com profundidade, as angústias de quem não tem um teto para morar. Dialoguei bastante com essas mulheres. Perguntei sobre: as suas origens, qual o grau de ensino que tiveram acesso, com qual renda familiar viviam, como se constituiam as suas famílias, e como, em detalhes, se deu a ocupação. Todas nasceram em Fortaleza e eram filhas de pais que chegaram do interior. Quase todas não conseguiram - se quer - concluir o ensino fundamental. A renda familiar era totalmente incerta: seus maridos (aliás, nenhuma delas eram casadas, eram juntas) não tinham uma renda fixa, viviam de "biscates". Sobre a ocupação, afirmaram que somente tinham fixado umas estacas para marcar o local da casa. E ainda: que existiam pessoas no grupo que estavam já levantando as paredes das casas, mas para venderem depois. O que não é nenhuma novidade: são os famosos especuladores de ocupação. As mulheres, também, não conseguiam entender a razão da construção de uma praça naquele local. Afirmaram: "praça é só para juntar marginais". Eu repliquei, mostrando a importância das praças numa cidade. Encerrando o nosso encontro, combinei que elas trariam a lista das famílias (o que, logo no outro dia, o fizeram) que realmente não possuiam moradia, e que eu iria contatar a Habitafor para buscar a solução do problema para o grupo. Assumí o compromisso que iria fazer uma visita ao local. O que o fiz com brevidade. Lá constatei o que elas afirmaram: havia o início de uma construção na altura de um metro, exatamente a de um homem que já possuia casa. Ordenei nossos servidores a demolí-la. A questão da falta de moradia é muito ampla e complexa. Passa, primeiro, pelo acesso das famílias à renda. Os diversos níveis de governo devem priorizar programas que facilitem a construção de moradias, considerando, de forma justa, as diversas faixas de poder aquisitivo das famílias. Paralelamente, a gestão municipal necessita ter uma postura rígida de controle urbano, não perdendo de vista a preservação das áreas verdes da cidade. Há que existir canais de comunicação com "os sem tetos" para a consolidação de um dos direitos mais prioritários do ser humano: possuir um abrigo para viver.